EPBR: Bahia planeja hub de combustíveis verdes para navios e aviões

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Estratégia é aproximar produtores de hidrogênio verde e biocombustíveis dos seus consumidores finais

O governo da Bahia acredita que a Baía de Todos os Santos, na região metropolitana de Salvador, pode ser um grande hub de combustíveis sustentáveis e abastecimento de navios.

“Pode ser o e-metanol, pode ser o SAF, que vai ser o novo combustível de aviação renovável. Podemos produzir combustível renovável e a Baía de Todos Santos pode ser um excelente lugar para abastecimento de navios”, disse Paulo Guimarães, superintendente na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado, em entrevista à agência epbr.

A estratégia da Bahia busca aproximar produtores de hidrogênio verde e biocombustíveis dos seus consumidores finais, combinando a existência dos portos de Aratu, Enseada e de Salvador, com a proximidade do distrito industrial de Aratu e o Polo Petroquímico de Camaçari, além da Refinaria de Mataripe, controlada pela Acelen.

O hidrogênio, produzido a partir de biomassa ou eletrólise, seria destinado, em um primeiro momento, para a fabricação de combustíveis sustentáveis sintéticos – substitutos de metanol, etanol e gasolina – e SAF.

Posteriormente, para uso na indústria química, para fabricação de fertilizantes, e na siderurgia, para o aço verde.

A indústria marítima já reconhece a necessidade de preparar suas frotas para operar com combustíveis alternativos com biodiesel, metanol e amônia – a fim de reduzir suas emissões de carbono.

A dinamarquesa Maersk, por exemplo, encomendou oito navios capazes de operar com metanol neutro em carbono, o primeiro deles realizou este mês a primeira operação de abastecimento com metanol verde do Canal de Suez, no Egito.

O e-metanol é produzido a partir do hidrogênio verde e dióxido de carbono capturado. E o metanol verde é produzido a partir da gaseificação de biomassa.

Novas cadeias

O hidrogênio é um importante insumo na fabricação do SAF pelo processo Fischer-Tropsch, que pode usar tanto biomassa tradicional, quanto capturar CO₂ de fontes limpas e usar hidrogênio para produzir o gás de síntese que dá origem ao querosene sustentável.

A partir da infraestrutura existente. “O que vai se fazer é produzir o hidrogênio e consumir esse hidrogênio o mais próximo possível dessa produção. E aí, vai sair amônia, vai sair ureia, vão sair combustíveis, porque é isso que vai ser transportado, porque o paraíso do transporte é produto líquido”, explica Paulo Guimarães.

O Brasil tem potencial para se tornar o principal supridor mundial de combustível sustentável de aviação (SAF). Mas precisa decidir se quer produzir SAF ou exportar matéria-prima.

Na produção do hidrogênio verde, a Bahia já conta com um projeto em construção pela Unigel, no Polo de Camaçari, com capacidade de produzir 100 mil toneladas anuais de hidrogênio verde e 600 mil toneladas/ano de amônia verde, a partir de 2027.

Em junho, a petroquímica assinou com a Petrobras acordo de confidencialidade para analisar negócios conjuntos nas áreas de hidrogênio verde, fertilizantes e projetos de baixo carbono

Já existe um amonioduto conectando o polo petroquímico ao Porto de Aratu, o que facilitaria o escoamento da amônia verde. Navios poderiam ser abastecidos diretamente por amônia, ou por metanol, feito a partir de hidrogênio verde. A outra parte do hidrogênio seria consumida pelas indústrias no próprio polo de Camaçari.

Acelen anunciou investimentos de R$ 12 bilhões para produzir diesel verde e SAF

O projeto será desenvolvido em fases, com início das obras previsto para janeiro de 2024 e da produção, no primeiro semestre de 2026. A capacidade total será de 20 mil barris/dia ou cerca de 1 bilhão de litros por ano.

“O investimento deles em comprar a refinaria foi a ponta de lança para começarem a ter aqui uma base para a produção de combustíveis verdes, de produtos verdes”, pontua Guimarães.

O projeto da Acelen prevê a produção de biocombustíveis a partir de oleaginosas, e a construção de uma unidade de geração de hidrogênio renovável.

E etanol

A ICM e Impacto Energia S/A pretendem construir uma unidade de produção de etanol de milho na Bahia, com capacidade de 260 milhões de litros de etanol anidro por ano. O início das operações está estimado para 2025.

Bahia promete mais anúncios em breve “Temos pelo menos dois ou três projetos de produção de hidrogênio verde, pelo menos um deles voltado à produção de metanol”.

Ainda há ideia da Noxis, de replicar em Ilhéus o modelo do projeto da Refinaria de Petróleo de Pecém (RPP), que seria uma refinaria associada à produção de metanol e ao biorrefino de óleo de soja, para produção de bioquerosene de aviação, no Porto Sul, ainda em construção.

Mercado de olho, aqui e lá fora

A recém criada Associação Brasileira de Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis (ABHIC) atua com foco na produção de combustíveis sustentáveis derivados do hidrogênio e acompanha o desenvolvimento do ambiente de negócios, olhando também para o suprimento externo.

“Tem desafios a serem vencidos, como desafios tecnológicos ainda, desafios regulatórios na Europa, desafios de custos, então está uma fase, mas os agentes do setor já perceberam que o metanol seria a melhor estratégia para descarbonizar o motor naval diesel”, diz Sérgio Costa, presidente da ABHIC.

Isto é, a utilização do metanol nos navios, que vão transportar e consumir os novos combustíveis, ainda está em processo de aprimoramento.

A entidade é parceira da Associação Alemã de Hidrogênio e Células de Combustível (DWV), e espera garantir que o Brasil seja um grande fornecedor de hidrogênio e derivados para a Alemanha.

E em Brasília?

“As tecnologias novas precisam receber pontualmente, durante um certo tempo, incentivos específicos do Estado para que a coisa se desenvolva. Isso não necessariamente significa redução de impostos. Pode ser redução de taxas de juros, financiamentos, projetos de infraestrutura”, diz o representante da Bahia.

No estado, o governo já anunciou uma série de medidas fiscais para estimular a produção de hidrogênio verde, inclusive a isenção de ICMS para toda a energia elétrica renovável – gerada no estado ou importada – que for utilizada para a produção de hidrogênio e amônia verdes na Bahia.

“A engenharia e a tecnologia resolvem muita coisa. Mas é a decisão política que faz as coisas acontecerem. Precisamos ter a coragem de tomar a decisão política, de não ficar para trás naquilo que a gente tem o potencial”.

Planejamento que passa pela necessidade de linhas de transmissão, ferrovias e melhoria dos portos.

“Sem marco regulatório é impossível você garantir que o investidor venha e coloque um montante gigantesco de capital intensivo de bilhões em uma planta de hidrogênio”, completa Sérgio Costa, da ABHIC.

Clique aqui para conferir a reportagem original.

Foto: SCZONE.

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