Canal Solar: “Indústria de fertilizantes será chave para o crescimento do mercado de H2V”, diz ABHIC

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Em entrevista ao Canal Solar, presidente da ABHIC comentou as perspectivas futuras do segmento

O mercado de H2V (hidrogênio verde) tem se expandido significativamente nos últimos anos, ganhando destaque global como uma solução promissora para a transição energética e a redução das emissões de carbono. 

No Brasil, o potencial para o desenvolvimento dessa tecnologia é significativo, graças à abundância de recursos naturais e ao crescente interesse por fontes de energia sustentáveis. 

O hidrogênio verde, gerado pela eletrólise da água com o uso de energia renovável, emerge como uma solução estratégica para descarbonizar indústrias e setores energéticos que ainda são altamente dependentes de combustíveis fósseis.

Neste contexto, a ABHIC (Associação Brasileira de Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis) comemora, neste mês, seu primeiro ano de atuação. O Canal Solar entrevistou Sérgio Augusto CostaPresidente da ABHIC, para entender o processo de criação da associação e as perspectivas futuras do hidrogênio.

Sérgio é Fundador e Presidente da ABHIC, CEO da VILCO Energias Renováveis e Managing Director da EMD Brasil. Formado em Engenharia Mecânica pela UFSC, com especializações em M&A e Regulação de Energias Renováveis, possui 20 anos de experiência no setor elétrico.

A associação é uma entidade nacional, com a missão de aprimorar e implantar tecnologias e regulatórias necessárias para o desenvolvimento do hidrogênio e dos combustíveis sustentáveis no Brasil.

A ABHIC representa não somente as empresas de hidrogênio verde, como também as organizações que atuam com hidrogênio cinza, marrom e azul, ou seja, as empresas que utilizam hidrogênio produzido a partir de combustíveis fósseis.

Como surgiu a ideia de criar a ABHIC e quais foram os principais objetivos iniciais da associação?

O Brasil possui um potencial gigantesco quando se trata de hidrogênio verde e seus derivados. O país tem um potencial de investimentos de 200 bilhões de dólares nos próximos 20 anos, de acordo com projeção da consultoria McKinsey & Company, e pode vir a se tornar um dos maiores produtores e exportadores desse insumo.

Porém, identificamos que, apesar de o Brasil ter muitas entidades falando sobre esse tema, o país carecia de uma associação realmente especializada em hidrogênio e combustíveis sustentáveis.

Desta forma, a ABHIC foi criada com o objetivo contribuir com a implementação e a otimização das condições de mercado, tecnológicas e regulatórias necessárias para o desenvolvimento do hidrogênio e dos combustíveis sustentáveis no Brasil.

A ABHIC atua para contribuir com a regulamentação e a estruturação do mercado nacional e tornar o Brasil um dos líderes no fornecimento desta commodity. A partir do momento de abertura e desenvolvimento do mercado brasileiro, o país terá diferenciais competitivos que o colocam à frente de outras nações.

Qual é o papel da ABHIC no cenário energético brasileiro e como a associação tem contribuído para o desenvolvimento do hidrogênio como fonte de energia limpa no Brasil?

O foco da ABHIC é a atuação no segmento de hidrogênio verde (gerado por meio de fontes renováveis) e demais combustíveis sustentáveis. Porém, a entidade atua também junto às empresas que usam hidrogênio cinza, marrom e azul, ou seja, as empresas que utilizam hidrogênio produzido a partir de combustíveis fósseis, mas que são comprometidas em realizar a transição energética para a economia sustentável por meio do hidrogênio verde. 

Desta forma, a ABHIC contribui para ajudá-las a se adequar à transição energética. Pois esse é o conceito de transição energética.

A associação trabalha na promoção da geração de hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis com uma atuação abrangente que envolve políticas públicas, investimentos, inovações tecnológicas e parcerias estratégicas. 

Assim, a ABHIC, no âmbito de políticas públicas, pretende auxiliar com propostas de incentivos fiscais para toda a cadeia de produção, transporte e armazenamento de hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis junto ao Poder Executivo e ao Congresso Nacional.

Além disso, entendemos que é fundamental investir em pesquisa e desenvolvimento para avançar nas tecnologias relacionadas à produção, transporte, armazenamento e uso do hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis. 

A ABHIC está trabalhando junto aos associados para estruturar projetos para submissão à chamada pública para temas estratégicos do Finep Mais Inovação, relacionado à tecnologia do hidrogênio verde e recém-lançado pelo Governo. Nele, estão previstos R$ 250 milhões em subvenção econômica (não-reembolsável para empresas) para hidrogênio de baixo carbono.

A ABHIC também trabalha para fomentar parcerias estratégicas com objetivo de impulsionar investimentos e compartilhar recursos em projetos. 

Juntamente com a DWV (Associação Alemã de Hidrogênio e Células de Combustível), estamos trabalhando no mapeamento de possibilidades de off-takers (compradores) para derivados do hidrogênio verde, como amônia e metanol, com o objetivo de fazer a conexão direta de potenciais compradores na Alemanha com as empresas e associados que desejam produzir no Brasil, ou seja, o mercado de exportação. 

Essa parceria com a DWV também visa fomentar a cooperação internacional para compartilhar melhores práticas, tecnologias e recursos na transição para a economia do hidrogênio.

Trabalhamos, ainda, para promover campanhas de conscientização para educar o público sobre os benefícios ambientais e econômicos do hidrogênio verde e dos combustíveis sustentáveis. 

Por fim, vamos oferecer programas de treinamento e capacitação para profissionais na indústria de energia para impulsionar a expertise nesses setores emergentes.

Quais foram os maiores desafios enfrentados pela ABHIC no seu primeiro ano de atuação?

Como esse é um setor ainda novo no Brasil, passamos por muitos desafios neste primeiro ano. O principal deles, sem dúvidas, foi a aprovação do marco legal do hidrogênio, que aconteceu recentemente, em 2 de agosto, após sanção presidencial. 

A definição da lei era aguardada por todos os players relacionados com o setor e permitirá que, a partir de agora, empresas e investidores tenham mais segurança jurídica para a realização de investimentos no país.

Porém, há outros desafios de mercado que precisam ser superados, não só no Brasil, mas no mundo todo, como a redução do custo de produção de H2 verde dos atuais 5 USD/kg a 6 USD/kg para 1,5 USD/kg a USD 2 USD/kg, que é o custo de produção do H2 cinza, ou seja, aquele extraído do gás natural, por meio da reforma do gás metano. 

Esse é o processo mais comum de produção de H2 atualmente, e, portanto, é o benchmark, pois entende-se que a tecnologia de H2 cinza está dominada e não deve ter avanços a longo prazo.

Caso se atinja um valor de 3 USD/kg para a produção do H2 verde, por exemplo, essa diferença de 1 USD/kg de H2, comparado com o H2 cinza, poderia ser coberta por um prêmio ou uma receita advinda de compensação ambiental como um crédito de carbono. 

Ou seja, ainda há muito para diminuir o custo de produção, bem como melhorar o desempenho dos eletrolisadores na produção de H2 verde para cada 1 USD investido.

Como a associação conseguiu superar esses desafios e quais foram as estratégias utilizadas?

A ABHIC, com sua diretoria e Conselho de Administração, junto às empresas associadas e instituições parceiras, acompanhou e contribuiu com as discussões a respeito do marco legal do hidrogênio por meio do seu relacionamento com os poderes Executivo e Legislativo.

Além disso, a associação contribui constantemente em discussões setoriais, estudos, eventos e reportagens para levar seu conhecimento a respeito do tema.

Pode destacar algumas conquistas importantes da ABHIC no último ano?

Nesse primeiro ano de vida, a entidade teve a oportunidade de participar e contribuir com importantes discussões setoriais, em diferentes instâncias.

Os representantes da ABHIC participaram, por exemplo, de reuniões com Rodrigo Rollemberg, Secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), e com representantes do MME (Ministério de Minas e Energia) para tratar sobre o futuro do hidrogênio verde no Brasil, bem como das audiências públicas da Câmara dos Deputados para tratar sobre o PL  2.308/2023 que é a base do Marco do Hidrogênio.

A associação se reuniu também com representantes da Comissão Estadual do Hidrogênio Verde da Bahia para tratar sobre o futuro da transição energética no Estado e o papel dos combustíveis sustentáveis, em especial o hidrogênio verde, durante esse processo.

Além disso, a ABHIC participou de importantes eventos nacionais e internacionais, como a Delegação de Países Nórdicos, em que eu como fundador e presidente participei de atividades, entre reuniões, visitas técnicas e eventos em diferentes países da Europa, para avaliar e contribuir com o desenvolvimento de negócios entre o Brasil e a Alemanha. 

Eu tive a oportunidade de participar da Hydrogen Online Conference, o maior e mais importante evento virtual sobre hidrogênio do mundo.

Ainda nos primeiros meses de atuação da ABHIC, a entidade pôde contar com a associação de grandes empresas, de diferentes segmentos, o que expressa a atuação da associação em toda a cadeia de hidrogênio. 

Outro ponto fundamental para a ABHIC foi a montagem de uma diretoria e um Conselho de Administração com profissionais experientes e que são referência nos segmentos que atuam.

Quais foram os principais projetos apoiados ou iniciados pela ABHIC até agora? 

Foi um primeiro ano de muito trabalho. Como o setor de hidrogênio é um segmento ainda novo, passamos por muitos desafios, mas ao mesmo tempo estamos muito otimistas com todo o potencial brasileiro para produzir e comercializar hidrogênio verde e seus derivados.

Neste primeiro ano, como comentei na resposta anterior, além de atuar nas discussões relacionadas ao Marco Legal do Hidrogênio, a ABHIC participou e apoiou inúmeros eventos nacionais e internacionais para contribuir com a as avaliações sobre o hidrogênio verde e seus derivados, como amônia, metanol e combustível sustentável de avião – SAF. 

No período, a associação participou ainda de reuniões com autoridades dos governos Federal e Estadual e contribuiu com reportagens na imprensa brasileira e internacional.

Como a associação planeja aumentar a adoção do hidrogênio em diferentes setores, como transporte, indústria e geração de energia?

Em função da exigência de capital intensivo para a implantação de um projeto de Hidrogênio, entendemos que primeiramente é necessário focar na exportação da commodity hidrogênio. 

Na verdade, em função das altas pressões exigidas e o alto risco envolvido por ser um elemento químico altamente explosivo, são os derivados do hidrogênio, tais como amônia, e-metanol, e-diesel, e-jet (os “Sustainable Aviation Fuels – SAF”) e e-nafta os produtos a serem exportados.

Somente informando que o “e” vem de “eletro”, ou seja, são os “e-combustíveis”, os quais são sintetizados por meio de processos químicos usando CO2 (Dióxido de Carbono) capturado ou CO (Monóxido de Carbono), juntamente com o hidrogênio obtido do processo de eletrólise da água com eletricidade produzida por fontes renováveis (hidrelétrica, eólica, solar, biomassa, geotérmica etc.).

No processo de produção do hidrogênio por eletrólise o rejeito é oxigênio. Ou seja, na Indústria do hidrogênio, ao invés de se ter gases de efeito estufa (Dióxido de Carbono – CO2, Metano – CH4, Óxido Nitroso – N2O), hexafluoreto de enxofre – SF6, hidrofluorcarbono – HFC e Pperfluorcarbono – PFC, é obtido o elemento primordial para a respiração humana.

A NH3 (amônia), em especial, é produzida a partir da separação do nitrogênio do ar, sendo esse composto por 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio, 1% de argônio, e 0,03% de dióxido de carbono. Assim, misturando-se o nitrogênio com o hidrogênio, sintetiza-se para se obter a amônia.

Portanto, com a exportação, desenvolve-se toda uma infraestrutura portuária e de gasodutos, por exemplo, além de know-how e expertise para, em paralelo, começar a desenvolver o mercado interno. Enxergamos a indústria de fertilizantes como um dos grandes possíveis vetores de aceleração do mercado interno.

O hidrogênio produzido em plantas locais, próximas às plantas industriais de fabricação de Fertilizantes, poderiam diminuir o custo do insumo Amônia (NH3) e, portanto, com possibilidade de diminuir o custo de produção da cultura agrícola em questão (como soja, milho, arroz e feijão), permitindo um maior controle da inflação dos alimentos por exemplo, e também aumentando a competitividade dos nossos produtos agrícolas para exportação. Conforme dados da ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos), em 2022 o Brasil importou cerca de 86% dos fertilizantes usados na Agricultura.

Outro setor importante para desenvolver o mercado local é o de transportes, especificamente ônibus urbanos e também caminhões, todos grandes emissores de Dióxido e Monóxido de Carbono.

Atualmente, existe uma grande quantidade de empresas nacionais e internacionais com projetos de hidrogênio verde e derivados (amônia, e-metanol, combustível sustentável de aviação – SAF etc) em andamento no Brasil ou com a intenção de desenvolver projetos no País. Há diversos projetos em andamento em escala comercial, além de projetos-pilotos. Ou seja, mesmo enquanto não havia uma regulação definida, já notamos um grande interesse no desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde e derivados no Brasil.

Vale destacar que alguns de nossos associados já estão desenvolvendo projetos da ordem de GWs, de produção de amônia verde e e-metanol, incluindo projetos de captura de carbono. 

Porém, ainda estão na fase de estudos de viabilidade.

Alguns desses projetos serão para exportação exclusiva, e outros para atender o mercado local e para exportação, tendo assim um mix. O horizonte de entrada em operação dos primeiros projetos é a partir de 2028.

Quais são as estratégias para atrair mais investimentos e financiamento para o desenvolvimento do hidrogênio no Brasil?

O Brasil possui um potencial gigantesco quando se trata de hidrogênio verde. O País pode vir a se tornar um dos maiores exportadores de hidrogênio do mundo, em especial para a Alemanha, que já informou que importará até 70% do hidrogênio para atender sua demanda interna. Esta é uma oportunidade incrível de transformar o Brasil em um dos maiores parceiros de exportação de derivados de hidrogênio para a Alemanha.

Se falarmos de investimentos, o potencial brasileiro é de 200 bilhões de dólares investidos nos próximos 20 anos, de acordo com projeção da consultoria McKinsey & Company.

Além disso, conforme o Hydrogen Council, o momento é de expansão: mais de 1.000 propostas de projetos foram anunciadas em todo o mundo.

Globalmente, a indústria anunciou mais de 1.000 propostas de projetos de grande porte até o final de janeiro de 2023. Destes, 795 projetos pretendem ser total ou parcialmente comissionados até 2030 e representam US$ 320 bilhões de investimentos em cadeias de valor de hidrogênio até 2030.

A Europa continua a ser a líder mundial em propostas de projetos de hidrogênio, com os maiores investimentos (US$ 117 bilhões, 35% dos investimentos) e maior crescimento absoluto (US$ 40 bilhões). América Latina e América do Norte seguem a Europa, cada uma representando cerca de 15% dos investimentos anunciados.

Nesse contexto, o Brasil vive um momento único. Essa é uma grande oportunidade de contribuir para que o País se torne um dos líderes na produção do Ouro Verde, como também é conhecido o hidrogênio verde no exterior.

Além da água, um dos principais insumos na produção do hidrogênio é a energia elétrica. Segundo a consultoria McKinsey & Company, no estudo “Hidrogênio verde: uma oportunidade de geração de riqueza com sustentabilidade, para o Brasil e o mundo”, o Brasil está entre os países mais competitivos para produção de hidrogênio verde no mundo.

O custo nivelado do Hidrogênio (“Levelized Cost of Hydrogen”) Verde brasileiro ficaria em torno aproximadamente USD 1,50 / kg de H2 em 2030, equiparando-se às melhores localizações dos EUA, Austrália, Espanha e Arábia Saudita. Importante lembrar que atualmente temos capacidade total instalada de geração em 193 GW, sendo o 7º país no mundo em capacidade instalada, e o 3º maior produtor de energia renovável, perdemos apenas para EUA e China. Sendo que, comparado a esses dois países, o Brasil tem maior proporção de energia renovável, em torno de 85%.

A Alemanha lançou recentemente seu Plano Estratégico Nacional do Hidrogênio 2.0, em que foi dobrada a meta de capacidade doméstica de produção de hidrogênio verde até 2030, de 5 GW para 10 GW. Além disso, a própria Alemanha já informou que importará até 70% do hidrogênio para atender sua demanda interna.

Ou seja, esta é uma oportunidade incrível de transformar o Brasil em um dos maiores parceiros de exportação de derivados de hidrogênio para a Alemanha. Com a definição do Marco Legal do hidrogênio no Brasil, o Brasil tem condições de propiciar segurança jurídica para a realização desses investimentos no País.

Quais são os principais desafios tecnológicos que ainda precisam ser superados para tornar o hidrogênio competitivo em termos de custo e eficiência?

No momento, entre várias, há basicamente três tecnologias concorrentes na produção de H2 verde para se consolidar como a mais viável: eletrolisadores alcalinos, eletrolisadores de PEM (Membrana de Troca de Prótons) e eletrolisadores de SOFC (Célula Eletrolisadora de Óxido Sólido). 

Eletrólise com letrodos de água alcalina possui um tipo de eletrolisador que realiza o processo de eletrólise da água utilizando uma solução alcalina, geralmente uma solução de KOH (hidróxido de potássio) ou NaOH (hidróxido de sódi), como eletrólito. Nesse processo, a água é dividida em seus componentes básicos, H2 (Hidrogênio) e O2 (Oxigênio), através da passagem de uma corrente elétrica.

Já a eletrólise de água alcalina pressurizada trata-se de uma variante da eletrólise da água alcalina convencional, na qual o processo ocorre sob pressão. Nesse método, uma solução alcalina, geralmente KOH (Hidróxido de Potássio) ou NaOH (Hidróxido de Sódio), é eletrólise para produzir H2 e O2 a partir da H2O, com o auxílio de uma corrente elétrica.

Por fim, a eletrólise com eletrodos de membrana de troca de prótons é uma tecnologia crucial na área de células de combustível e eletrolisadores. É chamada assim porque utiliza uma membrana especial que permite a troca seletiva de prótons (íons de hidrogênio) enquanto bloqueia o fluxo de elétrons. 

Essa membrana é um componente essencial em dispositivos que envolvem reações eletroquímicas, onde ocorrem transferências de prótons e elétrons.

Eletrólise de óxido sóólido é uma tecnologia que envolve a utilização de óxidos sólidos como eletrólitos para realizar o processo de eletrólise da água ou de outros compostos para produzir hidrogênio ou outros gases. Nessa metodologia, um eletrólito sólido, geralmente um óxido cerâmico, é utilizado para separar os gases gerados durante a eletrólise.

A eletrólise de óxido sólido é o inverso do funcionamento de Células de Combustível de Óxido Sólido (“Solid Oxide Fuel Cells” – SOFC), onde a eletricidade é gerada através da reação de um combustíveis, como hidrogênio, com um Oxidante, como o Oxigênio do Ar.

Reforço que é uma nova tecnologia, uma nova indústria, portanto necessita de incentivos financeiros e fiscais (tributários) para se desenvolver (diminuição de CAPEX e OPEX e aumento da performance).

Como a ABHIC está promovendo a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias de hidrogênio?

Entendemos que é fundamental investir em pesquisa e desenvolvimento para avançar nas tecnologias relacionadas à produção, transporte, armazenamento e uso do hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis. 

Por conta disso, a ABHIC está trabalhando junto aos associados para estruturar projetos para submissão à chamada pública para temas estratégicos do Finep Mais Inovação, relacionado à tecnologia do hidrogênio verde e recém-lançado pelo Governo. Nele, estão previstos R$ 250 milhões em subvenção econômica (não-reembolsável para empresas) para hidrogênio de baixo carbono.

Defendemos, também, o acesso a financiamentos a juros baixos, pois isso é fundamental para apoiar projetos de pesquisa e desenvolvimento na área.

Além disso, a associação promoveu, em parceria com Sapiens Parque e o Fotovoltaica/UFSC (Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina), em maio deste ano, um workshop para buscar parcerias para o projeto “hidrogênio no contexto do setor elétrico brasileiro”, de autoria da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), referente à chamada de número 023/2024.

A iniciativa tratou do cadastramento de projetos apoiados pelo PDI (Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) desenvolvido pela Agência, que contemplem a inserção de sistemas de produção de hidrogênio renovável de forma integrada e sustentável.

Como a ABHIC está garantindo que o desenvolvimento do hidrogênio seja ambientalmente sustentável? E quais são as principais preocupações ambientais relacionadas ao ciclo de vida do hidrogênio e como a associação está abordando essas questões?

Como destacado anteriormente, a ABHIC representa não somente as empresas de Hidrogênio Verde, mas também as organizações que atuam com hidrogênio Cinza, Marrom e Azul, ou seja, as empresas que utilizam hidrogênio produzido a partir de combustíveis fósseis, mas que são comprometidas em realizar a transição energética para a economia sustentável por meio do hidrogênio verde.

Ou seja, são empresas que utilizam hidrogênio produzido a partir de combustíveis fósseis, mas que se comprometem a realizar a transição energética para uma economia sustentável por meio do hidrogênio verde. Para a ABHIC, esse é o conceito de transição Energética.

Além disso, o setor de atuação da ABHIC é um segmento ambientalmente sustentável. O hidrogênio verde, bem como seus derivados (amônia, metanol, combustível sustentável de aviação – SAF, etc.), são combustíveis limpos e renováveis, que têm papel essencial na transição energética.

Quais são as expectativas da ABHIC para o futuro do hidrogênio no Brasil?

O Brasil possui um potencial enorme quando se trata de hidrogênio verde, o que gera um grande otimismo no mercado.

O país já possui uma matriz de geração de energia renovável, com mais de 85% da capacidade instalada em fontes renováveis. Além de termos um sistema elétrico interconectado em praticamente todo o país, com mais de 170 mil km de linhas de transmissão. 

Isso nos permite usar os recursos naturais de cada região para a geração de energia renovável, como Eólicas e Solares no Nordeste, e Hidrelétricas no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte por exemplo. É uma vantagem competitiva.

Então, diferentemente dos Estados Unidos e Europa, nós já somos renováveis, enquanto esses países, além de fomentar a produção de H2 Verde, necessitam também viabilizar a geração renovável.

E por fim, segundo o Banco Mundial, o Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo (13,2%), seguido pela Rússia (10%), Canadá (6,6%), EUA (6,5%) e China (6,5%). Portanto, não há necessidade de custos adicionais de dessalinização para a produção de hidrogênio e derivados.

Levando em conta todos esses fatores, e as projeções já mencionadas (como o estudo consultoria McKinsey & Company, que aponta um potencial de 200 bilhões de dólares investidos nos próximos 20 anos no Brasil), a expectativa é muito otimista quanto ao futuro do hidrogênio no País.

Qual é a mensagem final que você gostaria de deixar para nossos leitores sobre o primeiro ano da ABHIC e os próximos passos da associação?

O primeiro ano de atuação da ABHIC foi muito intenso, e ao mesmo tempo muito positivo. Durante esse período, a associação reuniu uma Administração muito forte, com profissionais renomados de diferentes players que atuaram na cadeia do hidrogênio verde.

Além de atuar nas discussões relacionadas ao Marco Legal do Hidrogênio, a ABHIC participou e apoiou inúmeros eventos nacionais e internacionais para contribuir com as avaliações sobre o hidrogênio verde e seus derivados, como amônia, metanol e combustível sustentável de avião – SAF. 

No período, a associação participou ainda de reuniões com autoridades dos governos Federal e Estadual e contribuiu com reportagens na imprensa brasileira e internacional.

Outra característica da ABHIC é ter entre seus associados empresas nacionais e internacionais que atuem em toda a cadeia do hidrogênio e seus derivados (fornecedores de bens e serviços, produtores, transportadores e compradores do Hidrogênio e Derivados), em especial dos segmentos de energia, transportes, petróleo, mineração, siderurgia e químicos.

Atualmente, a associação conta com a Copel, que atua na geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, a Celeo, investidor internacional que participa ativamente do desenvolvimento, investimento e gerenciamento de ativos de infraestrutura (transmissão de energia e geração renovável), e a construtora Elecnor do Brasil, que faz parte do Elecnor Group, de capital espanhol, e atua na construção de projetos de EPC de subestações, linhas de transmissão, de projetos de gás e de geração centralizadas de energias fotovoltaicas e eólicas.

São associados, ainda, a Vilco, com atuação  no mercado de energias renováveis por meio de serviços especializados em negócios, projetos e consultoria no setor elétrico, a Wärtsilä Brasil, empresa finlandesa que atua no desenvolvimento de tecnologias para o uso do hidrogênio na geração de energia termoelétrica, e a Horse Cars, empresa criada em 2023, com sede em Londres, a partir da joint-venture entre o Grupo Renault, a Geely Holding e a Aramco, com foco no desenvolvimento, produção e fornecimento de motores de combustão interna e híbridos de baixa emissão e combustível alternativo para os setores automotivo e industrial.

A entidade é parceira, ainda, da DWV (Associação Alemã de hidrogênio e Células de Combustível), a qual tem atuado por uma indústria sustentável de hidrogênio desde 1996 na Alemanha, o maior mercado consumidor de hidrogênio no mundo, da Mission Hydrogen, iniciativa que atua no compartilhamento de conhecimento sobre hidrogênio e no apoio a empresas, e da RENAC (Renewables Academy), um dos principais provedores internacionais de treinamento e capacitação em energia renovável e eficiência energética.

Foi um primeiro ano de muito trabalho de toda a equipe ABHIC, incluindo diretoria e Conselho de Administração, junto às nossas associadas e parceiras, mas esse é só o começo. O setor ainda está se estruturando para atingir pleno desenvolvimento daqui a alguns anos. Estamos muito otimistas com relação ao futuro do hidrogênio renovável e de baixo carbono no Brasil, que certamente será uma potência mundial nesse quesito.

Quanto aos próximos passos, seguimos focados na missão da ABHIC, que é contribuir com o fomento e o desenvolvimento do mercado de hidrogênio e derivados no Brasil, especialmente após a aprovação do marco regulatório do hidrogênio, que trará mais segurança para a realização de investimentos nesse setor. 

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