Canal Solar: Regulação, incentivos e capacitação são pilares essenciais para o avanço do hidrogênio verde

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Sérgio Augusto Costa, presidente da ABHIC, detalha os desafios e o que esperar do combustível renovável para os próximos anos

O hidrogênio verde tem se consolidado como uma das principais soluções para a transição energética global, atraindo investimentos expressivos e gerando expectativas em todo o mundo. No Brasil, um país com vasto potencial renovável, o cenário não é diferente.

A aprovação do Marco Legal do Hidrogênio e a criação do PHBC (Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono) em 2024 marcaram avanços importantes, mas muitos desafios ainda precisam ser superados para que o país alcance seu potencial máximo nesse mercado promissor.

Em entrevista exclusiva ao Canal Solar, Sérgio Augusto Costa, presidente da ABHIC (Associação Brasileira de Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis), avalia o panorama do hidrogênio verde no cenário nacional, destacando os avanços regulatórios, o potencial de investimentos, e as dificuldades que os projetos enfrentam para se tornarem viáveis.

Sérgio também aborda como os memorandos de entendimento firmados entre empresas nacionais e internacionais podem ser transformados em iniciativas concretas e comenta a importância de incentivos para a redução do custo de produção e desenvolvimento de tecnologias competitivas.

Nesta conversa, o executivo analisa ainda os desafios globais para a expansão do hidrogênio verde, os avanços tecnológicos necessários e as perspectivas para 2025, além de apontar quais combustíveis derivados do hidrogênio podem se destacar nos próximos anos.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

O ano de 2024 foi marcado por avanços significativos no setor de hidrogênio verde, consolidando-se como peça-chave na transição energética global e atraindo grandes investimentos. Qual é a avaliação que o senhor faz de 2024 e qual é o atual cenário do hidrogênio verde no Brasil?

O Brasil possui um potencial gigantesco quando se trata de hidrogênio verde e seus derivados. O país tem um potencial de investimentos de US$ 200 bilhões nos próximos 20 anos, de acordo com projeção da consultoria McKinsey & Company, e pode vir a se tornar um dos maiores produtores e exportadores desse insumo.

Mas, como esse é um setor ainda novo no Brasil, passamos por muitos desafios neste início, em especial em 2024. O principal deles, sem dúvidas, foi a aprovação do Marco Legal do Hidrogênio, em agosto.

Outro item fundamental foi a aprovação da Lei 14.990/24, que institui o PHBC (Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono e Investimentos).

Este foi mais um marco importante para o desenvolvimento do hidrogênio e combustíveis sustentáveis no Brasil, em especial por conta da concessão de créditos fiscais de R$ 18,3 bilhões para os produtores e compradores de hidrogênio de baixa emissão de carbono entre 2028 e 2032.

Se olharmos para o cenário atual do hidrogênio verde e seus derivados, e pensando em 2025, enxergamos um setor que está mais preparado do ponto de vista regulatório.

A definição do marco legal, por exemplo, era aguardada por todos os players relacionados com o setor e permitirá que, a partir de agora, empresas e investidores tenham mais segurança jurídica para a realização de investimentos no país.

Além disso, existe atualmente uma grande quantidade de empresas nacionais e internacionais com projetos de hidrogênio verde e derivados, como amônia, e-metanol, combustível sustentável de aviação e entre outros em andamento no Brasil ou com a intenção de desenvolver projetos no país.

Há diversos projetos em andamento em escala comercial, além de projetos-pilotos, e esse número deve aumentar consideravelmente a partir de 2025.

Vale destacar que alguns de nossos associados já estão desenvolvendo projetos da ordem de GWs, de produção de amônia verde e e-metanol, incluindo projetos de captura de carbono. Porém, ainda estão na fase de estudos de viabilidade.

Com o crescente número de memorandos de entendimento (MoUs) firmados com empresas europeias e asiáticas neste ano, como o setor pretende transformar esses acordos em projetos concretos? Quais são os principais desafios para consolidar o Brasil como um polo global de hidrogênio verde e amônia verde?

O potencial do Brasil e as expectativas sobre o país são grandes, mas é preciso agir com racionalidade para que possamos desenvolver esse setor. Estamos só no começo, ainda temos muito a percorrer.

É preciso entender que, para destravar a produção de hidrogênio no Brasil, é necessário um esforço coordenado que envolve a criação de um ambiente regulatório favorável, investimentos em infraestrutura e tecnologia, capacitação da força de trabalho e incentivos para a demanda.

Estimular a demanda por hidrogênio e derivados em setores-chave como indústria e transporte com a implementação de políticas que incentivem o seu uso é fundamental para o desenvolvimento e sustentabilidade do mercado interno.

A combinação dessas estratégias pode ajudar a superar os gargalos estruturais e posicionar o Brasil como um líder na produção de hidrogênio verde.

Não adianta anunciar uma quantidade grande de MoUs sem o cuidado necessário de avaliar se o projeto é viável e qual a real expectativa de demanda sobre ele.

Do ponto de vista de mercado, é importante destacar que o mercado de derivados verdes é atualmente pouco líquido, o que significa que ainda não há um grande volume de transações e os mecanismos de descoberta de preços estão em desenvolvimento.

Os reguladores europeus estão cientes disso e defendem medidas de descarbonização que não imponham encargos financeiros adicionais às indústrias.

Em vez de aumentar os preços, a União Europeia favorece mecanismos como CFDs (Contratos por Diferença, na tradução da sigla para o português) e leilões para apoiar a transição para combustíveis verdes.

Os CFDs oferecem uma maneira de estabilizar os preços, compensando os produtores se o preço de derivados verdes cair abaixo de um nível acordado, garantindo a viabilidade financeira dos projetos.

Globalmente falando, a redução do custo de produção do hidrogênio verde segue sendo um grande desafio?

Sem dúvida a redução do custo de produção é um dos principais desafios. Hoje, o hidrogênio verde custa entre US$ 5,00 e US$ 6,00 o quilo, enquanto o hidrogênio cinza, produzido a partir de gás natural, custa cerca de US$ 1,50 a US$ 2,00 o quilo.

Para competir, é necessário atingir custos similares ao hidrogênio cinza ou compensar a diferença com incentivos, como um prêmio ou uma receita advinda de compensação ambiental, como créditos de carbono. Ou seja, ainda há muito para diminuir no custo de produção, bem como melhorar o desempenho dos eletrolisadores na produção de H2 Verde para cada USD 1 investido.

Atualmente, existem três tecnologias principais para a produção de H2 Verde: eletrolisadores alcalinos, de membrana de troca de prótons (PEM) e eletrolisadores de Célula Eletrolisadora de Óxido Sólido (SOFC).

É uma nova tecnologia, uma nova indústria, portanto necessita de incentivos financeiros e fiscais (tributários) para se desenvolver (diminuição de CAPEX e OPEX e aumento da performance).

Na prática, quais projetos de hidrogênio verde estão se tornando viáveis no Brasil? Quais são os desafios para viabilizá-los?

Atualmente, há uma série de projetos em andamento, alguns em escala comercial e outros em fase piloto. Alguns dos projetos serão para exportação exclusiva, e outros para atender o mercado local e para exportação, tendo assim um mix. O horizonte de entrada em operação dos primeiros projetos é a partir de 2028.

O principal desafio é reduzir os custos de produção, além de superar questões relacionadas à infraestrutura, tecnologia e incentivos.

Em médio prazo, acreditamos que o SAF (combustível sustentável de aviação) será o primeiro derivado a ganhar escala, dado o compromisso global da aviação com a descarbonização. Então, até mesmo por necessidade, acreditamos que esse será o primeiro dos combustíveis derivados do hidrogênio a ser utilizado em larga escala no Brasil e no mundo.

Clique aqui e confira a reportagem do Canal Solar na íntegra.

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